Cresce a incidência de Doenças Sexualmente Transmissíveis na terceira idade
A sexualidade na terceira idade é ainda permeada por muitos tabus e preconceitos. Porém, quanto mais o tema for tratado com normalidade, maiores são as oportunidades de gerar esclarecimentos relevantes para essa população, principalmente no que diz respeito à exposição a infecções sexualmente transmissíveis.
“As doenças sexualmente transmissíveis na terceira idade passaram a ser um problema de saúde pública no Brasil”, pontua o Dr. Mauro Romero, presidente da Sociedade Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia do Rio de Janeiro. Com a melhoria da qualidade de vida e a extensão do ciclo social e afetivo, cada vez mais os idosos tornam-se vulneráveis a essas doenças, mas ainda não buscam a orientação certa em termos de prevenção.
A falta de uma equipe de saúde humanizada e especializada nesse tipo de atendimento contribui para que esse grupo não procure apoio por vergonha do julgamento devido à idade. Muitos idosos não possuem o hábito de usar preservativo e, somado a isso, faltam campanhas nacionais de prevenção voltadas para a terceira idade, pois ainda existe a visão de que a sexualidade não faz parte dessa fase da vida.
Segundo Dr. Mauro, há um aumento considerável de doenças como HPV, sífilis e HIV. “O Brasil também vivencia uma verdadeira epidemia de gonorreia resistente aos principais antibióticos. O mesmo é observado com o HIV resistente aos antirretrovirais distribuídos na rede pública”, alerta o especialista.
Dados recentes do Boletim Epidemiológico HIV/Aids, do Ministério da Saúde, apontaram que o número de casos de HIV entre pessoas acima dos 60 anos aumentou 81% entre 2006 e 2017, sendo que as taxas aumentaram tanto para homens quanto para mulheres. “O crescimento também é notado em relação à sífilis e HPV”, diz o médico.
De acordo com pesquisas, o uso do preservativo para pessoas acima de 50 anos é seis vezes menor do que na população mais jovem. Essa predominância pode ser explicada pelo fato de a mulher na pós-menopausa já não se sentir ameaçada com o risco de uma gravidez indesejada, pelo preconceito quanto ao uso de preservativo pelos homens mais velhos e/ou também pela visão dos próprios idosos, que pensam que, em razão da idade, estariam em um grupo de “baixo risco”.
“Biologicamente, sabemos que o próprio avanço da idade faz com que a imunidade do organismo diminua naturalmente. E isso permite que o risco de complicações em pacientes idosos seja maior”, afirma. Porém, diferente dos jovens, eles costumam ter o hábito de ir ao médico aos primeiros sinais da doença, facilitando a adesão ao tratamento.
Cada doença sexualmente transmissível tem um tipo de tratamento específico, dependendo do tipo de infecção que se trata (causadas por bactérias, fungos ou vírus). “Somos referência de tratamento no mundo, pois os pacientes diagnosticados com a infecção devem ser medicados – integralmente e gratuitamente – pelo governo. Por isso, não faltam medicamentos e, após o diagnóstico, o paciente já tem acesso imediato”, salienta Dr. Mauro.
Com informação e responsabilidade, as doenças sexualmente transmissíveis podem ser contidas. Além disso, muitas têm cura e/ou controle. Quanto mais precoce o diagnóstico, mais facilitado fica o tratamento.