A importância da medicina preventiva para a saúde do brasileiro

Agosto med site 1

Estresse, sedentarismo, má alimentação e tabagismo. O estilo de vida levado pelo brasileiro é um reflexo direto das causas de morte mais frequentes no país. De acordo com os últimos dados do Ministério da Saúde, são as chamadas “doenças da modernidade” que ocupam o topo do ranking de mortalidade, sendo responsáveis pelo maior número de óbitos de indivíduos de ambos os sexos.
 
Por ordem crescente, as cinco doenças que mais matam no Brasil são as doenças hipertensivas (AVC, ataque cardíaco e aneurismas), o diabetes mellitus, a pneumonia, o infarto agudo do miocárdio e, em primeiro lugar, as doenças cerebrovasculares (AVC, derrame cerebral e aneurismas).
 
Parte da razão que explica a alta incidência dessas doenças está no desconhecimento em relação à importância da medicina preventiva. “As pessoas devem ir ao médico para não adoecer, não porque já estão doentes”, pontua Dr. Henrique Pasqualette, diretor do Centro de Estudos de Pesquisas da Mulher (CEPEM). Essa área médica é voltada à prevenção de doenças por meio de ações antecipadas, como programas de vacinação, exames periódicos, controle de peso e check-ups regulares.
 
A medicina preventiva é divida por quatro vertentes:
 
– Prevenção primária: Busca reduzir ou remover os fatores de risco das doenças, impedindo que ela chegue ao organismo. É o ápice da medicina preventiva. Entre os exemplos estão a imunização por meio de vacinas e o controle de hábitos de vida (evitar o fumo, o sedentarismo…).
 
– Prevenção secundária: Promove detecção precoce de doenças, ainda em estágios iniciais, para impedir a evolução do quadro. “Os exames de diagnóstico – como mamografia, densitometria óssea e papanicolau – são exemplos”, afirma Dr. Henrique.
 
– Prevenção terciária: Limita o impacto negativo da doença, impedindo que ela evolua. “É o caso de mastectomias parciais e radioterapia para remover e controlar o câncer de mama”, diz o especialista.
 
– Prevenção quartenária: Inclui métodos que evitam ou minimizam os efeitos colaterais de intervenções médicas excessivas ou desnecessárias.
 
Todas as cinco doenças que mais matam no Brasil conseguem ser prevenidas e/ou controladas previamente com a mudança na rotina, que inclui desde alteração na dieta e prática de exercícios até aumento da periodicidade dos exames de check-up. “Os fundamentos da medicina preventiva se resumem, basicamente, ao acompanhamento do paciente por meio de exames de rastreio para detecção precoce de doenças, sempre levando em conta a predisposição genética, o histórico clínico e os hábitos de vida adotados”, comenta Dr. Henrique.
 
Confira abaixo os fatores de risco associados às doenças que mais matam no país:
 
Tabagismo
 
O hábito de fumar continua sendo uma das principais causas de mortes evitáveis e precoces no mundo todo. Em 2015, foram estimados 6,4 milhões de óbitos prematuros atribuídos ao tabagismo. Segundo pesquisas, os fumantes morrem 5 a 8 anos mais cedo do que aqueles que não possuem o vício. Eles também têm o dobro do risco de doenças cardíacas fatais e 10 vezes o risco de câncer de pulmão, além do de boca, garganta, esôfago, pâncreas, rim, bexiga e colo do útero. Ao parar de fumar, há uma redução considerável no risco de morte por infarto, AVC, hipertensão e diabetes. Em média, as mulheres que param de fumar até os 35 anos adicionam cerca de três anos a sua expectativa de vida, enquanto homens aumentam dois anos.
 
Sedentarismo
 
Conhecido como um dos maiores vilões da saúde, o sedentarismo está vinculado à obesidade, diabetes, hipertensão, colesterol alto, problemas respiratórios, infarto e alguns tipos de câncer. Esse conceito tem relação com a quantidade de calorias gastas, seja em exercícios físicos ou em tarefas do dia a dia. Sem dúvidas, uma das principais consequências de uma vida inativa está no ganho de peso. “A obesidade é um grande fator de risco para saúde, elevando os níveis de gordura e açúcar no sangue, assim como a pressão arterial”, conta Dr. Henrique. Para eliminar o sedentarismo, é importante que o paciente escolha atividades prazerosas e motivadoras Dessa forma, é possível manter uma maior regularidade da prática dos exercícios, diminuindo as chances de desistência.
 
Instituições como o Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos e o Centro de Controle e Prevenção de Doenças recomendam, semanalmente, uma média de 150 minutos de exercícios moderados (como caminhada) ou 75 minutos de exercícios intensos (como corrida). O que somatiza cerca de 30 minutos diários de atividade. Dados comprovam que a prática é capaz de diminuir riscos de infarto, hipertensão, doença arterial coronariana, diabetes e osteoporose.
 
Má alimentação
 
Outro fator ligado ao ganho de peso – e possível obesidade – é a má alimentação. O alto consumo de açúcar, carboidratos refinados (pães, massas e doces) e gorduras gera desequilíbrios metabólicos no organismo, que podem causar doenças cardiovasculares, aumento do colesterol e hipertensão. Uma dieta rica em alimentos industrializados – repletos de aditivos, sódio, conservantes e emulsificantes – também está relacionada a casos de câncer de intestino. Pesquisadores de Harvard, nos EUA, descobriram que 50 gramas diários de alimentos industrializados e embutidos podem aumentar em 42% o risco de problemas cardíacos e em 19% o risco de diabetes. E mais um dado alarmante preocupa. Segundo um relatório da FAO, órgão das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação, a população dos países da América Latina está priorizando cada vez mais o consumo de industrializados ao invés de alimentos naturais. Como consequência, o Brasil bate um novo recorde no número de pessoas acima do peso, chegando a 51% da população.
 
O sobrepeso e a obesidade são calculados por meio do IMC, Índice de Massa Corporal, que serve para avaliar o peso em relação à altura. A fórmula é o peso em kg dividido pela altura em metros ao quadrado. Um resultado de IMC entre 25,0 e 29,9 kg/m2 é classificado como sobrepeso, enquanto qualquer valor acima de 30,0 kg/m2 é considerado como obesidade. Diversos estudos comprovam que pessoas com um IMC maior ou igual a 40,0 kg/m2 têm altas taxas de mortalidade por câncer. Homens obesos têm 52% mais chances de contraírem a doença em relação aqueles com peso normal. Entre as mulheres, o risco é 62% maior para as obesas. Esses dados são referentes ao câncer de estômago, próstata, mama, útero, colo do útero, ovário, esôfago, cólon e reto, fígado, pâncreas e rim.
 
Estresse
 
Vilão da vida moderna, o estresse pode desencadear várias doenças, como hipertensão, diabetes, doenças cardiovasculares, cerebrovasculares, entre outras. Em momentos de tensão, o organismo ativa recursos que o deixam mais alerta… E isso é feito por meio da liberação dos hormônios cortisol e adrenalina, que vão para o cérebro, para a musculatura e para a pressão sanguínea. O cortisol é chamado de hormônio do estresse porque seus níveis aumentam em resposta a situações de pressão – física e psicológica. Porém, em excesso, ele desregula o metabolismo. O problema é quando o estresse começa ser constante e por questões corriqueiras. Nesses casos, o coração acelera, há o aumento da sudorese, vêm a dor de estômago, a disfunção intestinal, a fadiga e os problemas de sono. Por isso, é importante não banalizar o estresse, além de saber diferenciá-lo de uma irritação normal. A forma de controle inclui métodos de relaxamento, como yoga e meditação, e a realização de Terapia Cognitivo Comportamental.
 
Falta de imunização
 
A desinformação é uma das causas que explica a falta de imunização entre adultos. “É muito comum ver o aumento da busca pela vacinação quando a doença aparece, mas esse cuidado deve ser preventivo”, esclarece o especialista. Existem vacinas tanto para bactérias, que são feitas para controlar surtos epidemiológicos, como para vírus, onde os efeitos tendem a durar a vida toda, sendo necessárias apenas algumas doses de reforço. Estar em dia com o calendário de vacinas facilita o controle e a erradicação de doenças que podem ser prevenidas. Atualmente, o calendário básico de vacinação é definido pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI) e corresponde ao conjunto de vacinas consideradas de interesse prioritário à saúde pública do país. “Os imunizantes trouxeram e continuam trazendo enormes benefícios na prevenção de males infecciosos, como poliomielite, sarampo, rubéola, hepatite, HPV, entre diversos outros”, salienta. Confira abaixo as vacinas para cada fase da vida, incluindo doses de reforço:
 
– Infância e adolescência (dos 0 aos 19 anos): BCG, Hepatite A e B, Rotavírus, Tríplice bacteriana, Haemophilus influenzae tipo B, Poliomielite, Pneumocócica conjugada, Meningoco?cica conjugada C, Meningocócica B, Tríplice viral, Varicela, HPV, Influenza e Febre amarela.
 
– Fase adulta (dos 20 aos 59 anos): Tríplice viral, Hepatites A e B, HPV, Tríplice bacteriana acelular do tipo adulto, Varicela, Influenza, Meningocócica conjugada ACWY, Meningocócica B, Pneumocócicas, Herpes zoster e Febre amarela.
 
– Gestação: Tríplice bacteriana acelular do tipo adulto, Hepatite B e Influenza. Em situações especiais, são recomendadas: Hepatite A e B, Pneumocócicas, Meningocócica conjugada ACWY, Meningocócica B e Febre amarela.
 
– Terceira idade (mais de 60 anos): Influenza, Pneumocócicas (VPC13) e (VPP23), Herpes zoster, Tríplice bacteriana acelular do tipo adulto, Hepatites A e B, Febre amarela, Meningocócica conjugada ACWY e Tríplice viral.
 
Negligencia aos exames de rotina
 
De maneira geral, a época de início da realização de alguns exames, bem como sua periodicidade, deve ser determinada por informações obtidas a partir do histórico familiar e do exame clínico de cada paciente. Entre os 20 e 30 anos, é recomendado o exame de sangue completo. “Para as mulheres, o exame preventivo ginecológico é fundamental, assim como a realização de mamografia (após os 40) e ultrassonografia de útero e ovários. Já os homens devem realizar um exame de ultra e PSA para avaliar a próstata a partir dos 45/50 anos”, ressalta o médico. A partir dos 40 anos, também deve ser feita uma avaliação cardiológica. Para investigar a saúde dos ossos, a densitometria óssea é o exame indicado, principalmente para mulheres na menopausa. Para pacientes com histórico de determinadas doenças ou que possuem fatores de risco (obesidade, tabagismo, sedentarismo, alto colesterol e hipertensão), os exames devem ser feitos com menor intervalo entre eles, podendo variar de 1 ano até 6 meses. Pessoas com doenças crônicas, como hipertensão, diabetes ou câncer, também precisam de maior acompanhamento. Para alguns casos, são indicados exames como tomografia computadorizada e ressonância magnética.
 
Para prevenção do câncer, a Força Tarefa de Serviços Preventivos dos Estados Unidos (USPSTF, sigla em inglês) recomenda os seguintes exames de rastreio:
 
Exame: Mamografia
Recomendação: Recomenda-se mamografia de triagem a cada dois anos para mulheres a partir dos 50 anos. Em condições especiais, a mulher pode optar por começar a triagem a partir dos 40 anos.
 
Exame: Rastreamento de câncer de colo de útero
Recomendação: Recomenda-se, a cada três anos, o rastreio com exame preventivo (papanicolau) em mulheres com idades entre 21 e 65 anos.
 
Exame: Rastreamento de câncer colorretal
Recomendação: Recomenda-se o rastreio em pacientes com idades entre 50 e 75 anos. O rastreamento inclui: exame de sangue oculto nas fezes todos os anos; FIT-DNA (exame imuno-histoquímico fecal) a cada um ou três anos; colonoscopia a cada 10 anos; tomografia computadorizada do cólon a cada cinco anos; sigmoidoscopia flexível a cada cinco anos.
 
Exame: Rastreamento de câncer de pulmão
Recomendação: Recomenda-se o rastreio anual do câncer de pulmão usando tomografia computadorizada de baixa dose de radiação (TCBD) em fumantes com idades entre 55 e 80 anos e com histórico de fumo de 30 anos ou mais.  Também é indicado para ex-fumantes, que abandonaram o fumo nos últimos 15 anos.
 
Exame: Rastreamento de câncer de próstata
Recomendação: Recomenda-se o rastreio após resultado do exame antígeno prostático específico (PSA).
 
Falta de adesão ao tratamento medicamentoso
 
Segundo pesquisas, 50% dos pacientes não conseguem aderir ao tratamento medicamentoso, enquanto 1/3 não tomam os remédios receitados. Entre as razões estão esquecimento, mudanças na rotina, incertezas sobre a eficácia do método e falta de conhecimento sobre as consequências do abandono do tratamento. Cientificamente, a medicina já comprovou o benefício da terapia medicamentosa para o controle e prevenção de diversas doenças. Por exemplo, o uso de estatinas é indicado para a redução do colesterol, hipoglicemiantes orais para o equilíbrio da quantidade de glicose no sangue e aspirina em baixas doses para a prevenção primária de doença cardiovascular. Seguir o plano receitado pelo médico à risca, respeitando a hora indicada e a quantidade do remédio a ser tomado, é uma etapa chave da medicina preventiva.

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